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a (im)permanência da arte

Relato do encontro “Musealização da arte contemporânea”, com Jessica Dalcolmo, realizado em 13 de abril de 2020


Já parou para pensar como funciona o armazenamento de obras de arte? Onde elas são guardadas e quais são os processos para manter uma obra? E na arte contemporânea, como funcionam esses processos? Essas foram algumas das perguntas que atravessaram nossa conversa sobre a musealização da arte contemporânea com Jessica Dalcolmo, no dia 13 de abril de 2020, que trouxe reflexões sobre como as produções dos artistas contemporâneos, que fogem da ideia do objeto ou da necessidade de estar em um cubo branco, participam do processo de musealização. O termo musealização é utilizado para definir um conjunto de ações de preservação, catalogação e pesquisa das obras que os museólogos utilizam para armazenamento e documentação.


Na década de 60, os artistas começaram a desenvolver novos preposições para a arte, questionando a ideia do objeto, dos suportes, dos materiais, da durabilidade da obra, da institucionalização e do mercado da arte. Além de causar estranheza na sociedade, os museus também sofreram os impactos da arte contemporânea e tiveram que reinventar a forma de musealização das obras, pois as categorias, as tipologias e os suportes tinham se ampliado, fazendo com que as definições aplicadas as obras dos períodos anteriores, não fossem suficientes. Mas, se os artistas estavam questionando o campo da arte, eles também não estavam questionando essa necessidade de armazenamento dos museus?


Alguns dos exemplos utilizados na conversa foram o livro de carne (1977) de Artur Barrio e a produção em arte postal (1981) de Leonardo Frank Duch (apresentada na 18ª Bienal de São Paulo, que foi objeto de pesquisa de mestrado de Jessica Dalcolmo). O caderno de carne é um exemplo de arte conceitual feito de material perecível e que crítica o período da ditadura militar no Brasil, a arte postal, por sua vez, consiste em cartas, cartões e selos que para manter seu propósito de criação precisariam continuar circulando na sociedade. Essas obras, porém, passaram por um processo de musealização, causando uma perda de sentido que os artistas propuseram, pois ambas foram feitas para um determinado período e um objetivo. Em contrapartida, ainda que o sentido proposto inicialmente não tenha sido realizado, acabamos nos questionando: se não acontecer a musealização por parte dos museus, essas obras não poderiam ser perdidas?


Acredito que esse questionamento pode permear em vários sentidos na nossa sociedade: não aceitamos que algo não possa ser durável, permanente. Parece que não estamos preparados para a perda e temos a necessidade de perpetuar. Não que esse ato esteja errado, porém, é diferente quando se trata de uma obra, pensando em qual sentido o artista tinha quando a desenvolveu ou que repostas o contexto físico e temporal davam. Não conseguimos chegar a muitas conclusões nessa discussão, mas foi um início da quebra de alguns paradigmas que temos da arte contemporânea e da sua, talvez, impermanência.



sobre a autora:

Helena Pereira Barboza é estudante de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Bolsista do Núcleo de Artes Visuais e Educação do Espírito Santo (NAVEES) entre 2018-2019 e Bolsista do Projeto de Extensão Interfaces do ensino da arte entre 2019-2020. Tem interesse na pesquisa sobre arte contemporânea e como ela pode ser desenvolvida na educação, além de tentar vincular práticas decoloniais no objeto de estudo. Atualmente faz parte do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES).



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