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colecionador de anedotas

Relato do encontro “Públicos dos públicos: Leituras da recepção via processos documentários em artes visuais”, com Diogo de Moraes, realizado em 19 de outubro de 2020


Desde sua gênese os museus são espaços guardadores, conservadores, cuidadores, comunicadores e educadores de coleções. Abrindo aos públicos coleções diversas, compostas por objetos explorados em terras distantes, imagens produzidas por determinados períodos ou artefatos históricos encontrados em escavações, os museus tratam comumente de coleções. Nosso encontro com Diogo de Moraes falou também de coleções, mas não dessas que são divulgadas e promovidas pelos museus, mas uma coleção que o artista, pesquisador e educador vem coletando como parte de seu processo de criação e pesquisa em arte e educação. A coleção de Diogo fala do espaço dos museus, mas não necessariamente da materialidade, porque trata de histórias e anedotas sobre os públicos dessas instituições.


Diogo propõe pensar a experiência da visitação a uma exposição - no nosso caso específico, de arte - não apenas pelo prisma daquilo que se observa como acervo do museu ou exemplar da coleção, mas levando em consideração os públicos que frequentam o espaço. A movimentação pela exposição, as relações estabelecidas entre si e com as obras, os tensionamentos do conjunto de regras/restrições das instituições e os comportamentos inesperados dentro de um padrão estabelecido como etiqueta são objeto de estudo do nosso convidado e se tornam séries de obras que relacionam texto e imagem.


Tratados como Episódios contrapúblicos (divididos em I e II), as histórias são redigidas a partir da experiência pessoal de Diogo, de partilhas que coleta nas trocas com mediadores, artistas ou outros parceiros de trabalho, de matérias de jornais ou de catálogos de exposições. A partir da segunda série Diogo acompanha as anedotas com uma ilustração que destaca elementos da narrativa, descrevendo as experiências desses “públicos dos públicos” - parafraseando o próprio convidado e o título do nosso encontro.


Em texto partilhado e lido com o grupo, Diogo informa que se interessa por “investigar algo que venha ocorrer para além (ou talvez aquém) das ‘prescrições’ de fruição, envolvimento ou mobilização contidas, de maneira mais ou menos declarada, em trabalhos e curadorias de arte – não apenas os de caráter abertamente participativo, mas também os de viés contemplativo, que não deixam de conter ‘instruções’ de como o observador deve se portar e proceder” (MORAES, 2020, p. 4).


No olhar direcionado aos públicos são analisados também outros aspectos porque seu comportamento é reflexo da política institucional, das práticas de acolhimento, das metodologias educativas e comunicacionais engendradas e da abertura aos diferentes formatos de visitação. Assim, começamos nosso encontro com partilhas sobre percepções sobre experiências dos públicos, intercalando entre primeira, segunda e terceira pessoas, envolvendo-nos nos relatos ou não. As percepções anedóticas do comportamento do público abriram espaço para o debate sobre a estrutura das instituições, possibilitando “delinear critérios, forjar categorias e constituir ferramentas capazes de conferir legibilidade e circulação aos comportamentos e enunciados manifestos em seus ‘atos de recepção’”, como Diogo demarca também em seu texto (MORAES, 2020, p. 4).



sobre a autora:

Julia Rocha é professora da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenadora do Núcleo de Artes Visuais e Educação do Espírito Santo - NAVEES e do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Doutora em Educação Artística pela Universidade do Porto, Mestre em Artes e Educação pela Universidade Estadual Paulista e Licenciada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Realiza pesquisa sobre o ensino da arte na contemporaneidade, mediação cultural, relações entre museus e escolas, avaliação de propostas educativas no campo das artes visuais e formação de professores.



referência:

MORAES, Diogo de. Ler os públicos e seus “atos de recepção” em artes visuais. IV Seminário de Estética e Crítica de Arte: políticas da recepção. Disponível em: <https://26ceb235-714d-47bc-879e-d589bf46bfe9.filesusr.com/ugd/281826_054abd9623aa4822a776c4b155677184.pdf>. Acesso em: 5 Out. 2020.



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