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descronológico adoração

Uma das perspectivas contemporâneas do ensino da arte se propõe a partir do questionamento da linearidade enganosamente evolutiva da cronologia das produções artísticas. No lugar de um trabalho que proponha um caminho linear, que percorre a produção artística narrada pelos livros de história da arte, propõe-se que o planejamento dos professores: transpasse variados contextos, relacionando-os e confrontando-os entre si; atravesse diferentes tempos, evidenciando os encontros e fricções entre produções de outros períodos e investigue múltiplos autores, demarcando como as respostas para perguntas semelhantes podem ser complexas e variadas.


A recriação de uma linha do tempo que não seja unidirecional e evolutiva possibilita um olhar ampliado para a produção de outros tempos, além de evidenciar que as produções artísticas e imagéticas se reconfiguram a partir das leituras produzidas de maneira contextual. Assim, no lugar de uma aprendizagem voltada para a compreensão de datas e de períodos, identificam-se questões pertinentes ao momento e aos sujeitos que o compuseram, possibilitando perceber conexões com o tempo presente e desenvolver analogias anacrônicas que ressignifiquem as imagens. Ao mudar esse ponto de vista de uma aprendizagem voltada para os dados e assumir a leitura das imagens como foco central, entende-se que o ensino da arte é menos um conjunto de dados históricos, publicado nos livros e apresentado em múltiplas fontes digitais, e mais uma leitura individualizada e investigativa dos aspectos que compõem o meio artístico.


Por isso propomos o descronológico, um exercício onde sugerimos a relação entre dois tempos, a partir de conexões e desconexões entre uma obra contemporânea e uma obra de algum outro período da história da arte. Na edição de hoje conectamos o Teto da Igreja de São Francisco, feito em 1812, por Mestre Ataíde, com Adoração (Altar para Roberto Carlos), 1966, de Nelson Leirner.


Como conexões pensamos que objetos de adoração se manifestam na história de diferentes maneiras. enquanto na pintura do teto da nave da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto, Mestre Ataíde representa Nossa Senhora cercada de anjos músicos, na Adoração de Nelson Leirner o cantor Roberto Carlos é objeto de admiração, junto com retábulos de de estampas religiosas. Elementos sacros estão presentes nas duas imagens, pelo caráter religioso e católico na primeira e pelos elementos cênicos e irônicos do altar da segunda. a relação de devoção e idolatria responde a cada tempo, uma vez que a Virgem Maria e Roberto Carlos são fenômenos identitários e culturais da época em que vivemos e em que as imagens foram produzidas.


Como desconexões refletimos que o teto da Igreja foi produzido como parte da construção arquitetônica ícone do Barroco brasileiro, somando o trabalho de Mestre Ataíde com outros elementos de Aleijadinho. já a adoração proposta por Leirner é uma obra autoral e individual, mas soma diferentes materiais produzidos por terceiros e apropriados pelo artista, como neon, cortinas de tecido, catraca de ferro, por exemplo.


Partimos desse ponto, mas e você: que outras conexões e desconexões identifica entre as duas obras?




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