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descronológico deslocamento

Uma das perspectivas contemporâneas do ensino da arte se propõe a partir do questionamento da linearidade enganosamente evolutiva da cronologia das produções artísticas. No lugar de um trabalho que proponha um caminho linear, que percorre a produção artística narrada pelos livros de história da arte, propõe-se que o planejamento dos professores: transpasse variados contextos, relacionando-os e confrontando-os entre si; atravesse diferentes tempos, evidenciando os encontros e fricções entre produções de outros períodos e investigue múltiplos autores, demarcando como as respostas para perguntas semelhantes podem ser complexas e variadas.


A recriação de uma linha do tempo que não seja unidirecional e evolutiva possibilita um olhar ampliado para a produção de outros tempos, além de evidenciar que as produções artísticas e imagéticas se reconfiguram a partir das leituras produzidas de maneira contextual. Assim, no lugar de uma aprendizagem voltada para a compreensão de datas e de períodos, identificam-se questões pertinentes ao momento e aos sujeitos que o compuseram, possibilitando perceber conexões com o tempo presente e desenvolver analogias anacrônicas que ressignifiquem as imagens. Ao mudar esse ponto de vista de uma aprendizagem voltada para os dados e assumir a leitura das imagens como foco central, entende-se que o ensino da arte é menos um conjunto de dados históricos, publicado nos livros e apresentado em múltiplas fontes digitais, e mais uma leitura individualizada e investigativa dos aspectos que compõem o meio artístico.


Por isso propomos o descronológico, um exercício onde sugerimos a relação entre dois tempos, a partir de conexões e desconexões entre uma obra contemporânea e uma obra de algum outro período da história da arte. Na edição de hoje conectamos Gravura Rupestre Bandolina, Val Camonic, de cerca de 10.000 a.C., com Untitled (Map/Drawing), 2011, de Reena Saili Kallat.


Ambas as imagens se relacionam com mapeamento e deslocamentos no território, com fluxo de pessoas pelo espaço. A gravura rupestre feita em uma rocha é considerada um dos primeiros mapas que apresenta representação de caminhos e percursos de um vilarejo do período paleolítico, no qual existem desenhos com elementos da vida cotidiana do local, com gravuras de animais, pessoas, cabanas e terras. Já o trabalho de Reena Saini Kallat é uma instalação em que a artista utilizou fios que constroem e representam migrações de trabalhadores no planeta. além das linhas marcadas do mapa, a instalação conta com sons de sirenes, buzinas de navios e sons de discagem de telefone. o trabalho representa um mapeamento que discute o caráter de fluxo e transformação global.


Quanto às desconexões, não é somente o tempo que separa as duas imagens. em termos de linguagem, o trabalho de Kallat é uma instalação, enquanto que a imagem rupestre é desenho em rocha. Ambas se relacionam com mapeamento, mas a instalação se refere ao processo de deslocamento territorial no mundo, enquanto que a gravura rupestre se refere ao mapeamento de um vilarejo.


O contexto por trás das duas imagens também é bastante distinto. A instalação de Kallat pensa no fluxo de migrantes trabalhadores e demarca os deslocamentos vividos forçosamente, já a gravura no Val Camonica se refere ao cotidiano da vila, demarcando o mapeamento da vivência de uma comunidade.


Partimos desse ponto, mas e você: que outras conexões e desconexões identifica entre as duas obras?




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