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desterritórios e percursos

Relato do encontro “Docência Nômade: narrativas e deslocamentos na formação de professores em Artes Visuais”, com Aline Nunes, realizado em 8 de junho de 2020


1. Conceitos:

deslocamento;

encontro;

possibilidades;

2. Hipóteses:

Como se deslocar em um período onde a máxima social é a inércia?; De que modo os encontros – com a cidade, com a escola e com os alunos – se transformam em substrato para vida ou se transformam na própria vida?; Quais são as possibilidades contidas no caminhar?


Os tópicos acima são escritos contidos nas páginas do caderno de anotações que costumo utilizar todas as segundas-feiras nas reuniões do Grupo Entre – Educação e arte contemporânea e são oriundos do encontro com a Aline Nunes. Decidi começar este relato transcrevendo-os, uma vez que estas frases, organizadas a minha maneira, apresentam aspectos importantes deste encontro, e apontam para o modo pelo qual o mesmo reverberou em minha prática – como artista, arte-educador e pessoa em trânsito.


Apresentando o trabalho Sapatos Imantados (1994), do artista Francis Alys (1959) – estando em Havana/Cuba, o artista calça sapatos com a sola composta por ímãs metálicos e se põe a caminhar pela cidade. A medida que se desloca, são incorporados aos sapatos alguns indícios da cidade, uma espécie de vestígios de onde caminhou – Aline introduziu os percursos que desempenhou durante sua caminhada profissional – e pessoal.


Passando por diversas Universidades, cidades e por quinze casas diferentes, suas escolhas profissionais foram alteradas por suas vivências. Mais que isso: o deslocamento geográfico lhe trouxe desejo pelo vivido, incorporando em sua prática “o interesse por lugares desimportantes e alheios ao campo da arte” explorando “a potência de não pertencer”. Estando em trânsito, tornou-se uma professora nômade, que exerce uma prática “que transforma e se transforma à medida que sai de si, que se lança à experiência de (se) conhecer e se deixar refazer”.


Baseando-se em sua narrativa e em todos os processos que vivenciou, Aline formulou sua fala – assim como sua docência – considerando que todas as suas vivências lhe atribuíram uma(s) outra(s) possibilidade(s) de reagir/estar no mundo, inclusive impactando em seus processos na sala de aula, uma vez que o trânsito-da-vida refletiu no trânsito-profissional, onde as “posturas adotadas na docência derivam, em grande medida, dos referenciais que vamos escolhendo, dos acontecimentos cotidianos e dos nossos encontros, sejam eles com a arte, a leitura, as imagens ou com outras narrativas que se entrecruzam às nossas”.


Estes caminhos, como reforçado durante sua explanação, a aproximaram da adoção de uma prática “não ajustada a modos de pensamento e comportamentos codificados”, tendo como principal ponto de partida os “estudos narrativos, com ênfase no viés autoetnográfico”, baseando-se em questões disparadoras da ordem de: “Como lidar com estes “desterritórios”? Como falar de docência com os caminhos artísticos? Como pensar/experimentar/produzir artisticamente a partir dos caminhos da educação?”


Aproximando-se de Larrosa então, passou a produzir outras narrativas para sua prática profissional e construir assim outras conversações possíveis para a educação das artes visuais, com intuito de “conhecer quais são as territorialidades dos estudantes/futuros docentes, bem como poder experienciar a partilha de seus percursos por meio das narrativas que vão se construindo a partir desses trânsitos”.


Além de investir na apresentação de suas pesquisas e das práticas de docência que realiza, Aline ainda nos apresentou seu projeto artístico Me mande notícias, onde produz cartas que contém o título do projeto, que possuem endereçamentos específicos, despachadas em mapas-envelopes bordados e lambe-lambes com fotografias de lugares e paisagens de seus deslocamentos, igualmente acompanhados pela frase Me mande notícias e instalados no espaço público.


Feitos todos estes apontamentos, o encontro passou a se dar nas trocas de experiências e apontamentos sobre as questões levantadas pela Aline e que perpassaram todos participantes. Da mesma maneira que iniciei, ratificando o encontro e as experiências que nos perpassam como ferramentas importantes para as práticas em artes, farei uso de uma última anotação presente em meu caderno para encerrar este relato, transcrevendo-a uma vez que a percebo como produto dos atravessamentos desta vivência:


PENSAR:

Quais marcas existem na minha produção que são originadas pelos lugares que passei?; Como estão estes lugares hoje em dia?; Quero verificar arquivos e documentos em meios aos meus guardados que indiquem os lugares por onde passei?

Ps.: Quero mandar notícias para a Aline e contar para ela as reverberações de nosso encontro.



sobre o autor:

Geovanni Lima é Artista e Performer, Doutorando em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas, Mestre em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas e Licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisa aspectos ligados à diáspora negra, arte contemporânea e performance. Membro dos grupos de pesquisa: Diálogos entre Sociologia e Arte/DISSOA e Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Com relação à produção em poéticas visuais apresentou trabalhos em exposições, seminários e festivais na Cidade do México, Rio Grande, Florianópolis, Joinville, Curitiba, São Paulo, Uberlândia, Macapá e Vitória. Idealizador e Coordenador do Festival Lacração - Arte e Cultura LGBTI+ e do Performe-se - Festival de Performance.




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