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como pensar o ensino de artes para além da margem?

Relato da conversação “Caderno de arte, para além da margem” com Julia Rocha, ocorrido no dia 12 de junho de 2022, por Ana Carolina Alves


Encontro pensado a partir do desejo de que a conversação não ficasse restrita a um formato, se tornando assim um convite a sair do habitual, onde teoria e prática se encontram divididos, tendo inclusive momentos distintos para cada um deles. A proposta foi realizada por Julia Rocha como o encontro entre eles, a partir de uma metodologia em que, enquanto a propositora expôs o texto-base da discussão, “O fazer no ensino da arte contemporânea”, os demais integrantes realizavam produções em conversa com o texto, ao mesmo tempo também debatiam sobre o tempo através das suas experiências enquanto alunos e professores. Deste modo, o encontro teve como seu produto as trocas realizadas entre os integrantes durante a discussão e um ensaio visual a partir das produções realizadas.


Os participantes do encontro foram convidados em quatro momentos distintos a produzir respostas visuais a partir da leitura e debate do texto. Sendo pensado como a arte tem sido ensinada em sala de aula, levando a reflexão sobre como a prática do ensino da arte vem sendo realizada ao longo da história, uso da abordagem triangular, o modo como a releitura é utilizada e a produção contemporânea como metodologia reverberando no ensino da arte. Com isso, foi questionada uma prática realizada a partir de desenhos para colorir, desenho livre e cópia, sendo levantada a necessidade de fomentar a criatividade, liberdade e autoria dos alunos.


No primeiro momento foi conversado sobre como a prática do ensino da arte vem sendo realizada ao longo da história. Para isso, antes mesmo de se iniciar a ser compartilhado o texto, os participantes foram pedidos para que fosse feito uma margem na folha. Essa prática gerou a primeira reflexão do encontro, pois de modo unânime a margem realizada era a “margem padrão”, um retângulo em torno da folha. Com isso a propositora questionou por quê todas as margens produzidas foram aquelas, sendo que a única coisa que foi solicitada foi que fosse feito uma margem, o que fez com que fosse realizada por alguns participantes a tentativa de fugir dessa margem cartesiana através de alguns desenhos ao longo da linha já construída.


Esse exercício realizado com a margem nos permitiu pensar sobre o quanto estamos condicionados a modelos preestabelecidos que se tornam padrão, pois apesar de ter sido solicitado apenas uma margem, todos realizaram a mesma produção. Outra reflexão é que diante do questionamento e convite a refletir sobre a margem realizada, houve o movimento de tentar “enfeitar” o que já havia sido realizado, o que nos permite pensar quantas vezes ao nos depararmos com condicionamento ao qual estamos sujeitos, buscamos de maneira quase automática ajustar a prática realizada, sem necessariamente refletir sobre o que efetivamente vem sendo desenvolvido.



Logo após a conversa sobre a margem se iniciou a exposição do texto, sendo discutido sobre o ensino de arte ao longo da história da educação brasileira, pensando sobre a forte influência das correntes teóricas em sala de aula, sendo destacado principalmente a influência do tecnicismo e da escola nova. Influência essa que possui reverberações até a atualidade e que pode ser visualizada na fala dos participantes sobre suas experiências enquanto ainda eram alunos, seja através de práticas que valorizavam a cópia, o desejo pelo perfeccionismo, sendo ressaltado nas memórias um registro do desenho que deveria ser pintado dentro das linhas, não sendo permitido que se ultrapassasse, pois borraria a imagens, ou seja através de práticas que valorizavam apenas o desenho livre, sem nenhuma orientação do professor. Diante disto, surgiu o convite para se pensar como as práticas atuais vêm sendo propostas? Quanto deste modelo ainda está presente em sala de aula?


O debate prosseguiu para o segundo momento, onde o texto convidava a pensar a utilização da abordagem triangular em sala de aula e o quanto ela foi mal entendida inicialmente pelos professores. Sendo a abordagem fundamentada na apreciação, contextualização e prática, apostando assim em uma observação e ação crítica contextualizada. Entretanto foi entendida de modo equivocada e utilizada de maneira que o aluno realiza uma cópia da arte que foi apresentada pelo professor e apreciada pela turma, realizando uma releitura tal qual é a obra.


O terceiro momento se centrou justamente na utilização da releitura em sala de aula, apostando nas suas potencialidades, uma vez que uma obra sendo apropriada pela turma pode ter reverberação na produção dos alunos, que imprime suas vivências, realizando deste modo uma nova leitura, significativa, pois representa um outro modo de ver aquela obra. Desta forma, é necessário apostar em uma prática que valorize a criticidade dos alunos, assim como também que preze pela liberdade e fomente a criatividade e autoria dos alunos.


Por último, foi pensado sobre arte contemporânea como metodologia, sendo destacado a criação a partir do remix de obras já existentes, associando o conceito a outras linguagens, como acontece na música através dos samples, por exemplo . Essa proposição nos convidou a pensar o processo de autoria nas produções contemporâneas, assim como também os processos de apropriação, seleção, edição e pós-produção.


Todos os momentos foram um convite para se pensar no ensino da arte para além das margens do caderno, a partir da acumulação histórica, onde se tem todo um arcabouço que fundamenta novas produções e também novas práticas de ensino e aprendizado nas artes visuais. O que permite pensar outras formas de colaborar para a aprendizagem dos alunos, através do entendimento das práticas que agregam ao seu repertório, assim como também através do compartilhamento de práticas que têm se demonstrado potentes, como exemplos compartilhados pelos participantes, como o caderno coletivo.

resultados da conversação,

caderno de arte, para além da margem

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