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um espaço expositivo de ideias e reflexões

Relato do encontro “Arte educação como mediação cultural e a potência de provocar dissensos”, com Valéria Peixoto de Alencar, realizado em 18 de maio de 2020


Era uma noite de segunda-feira, mais precisamente às 18h do dia 18 de maio de 2020, me direcionei ao quarto e liguei o computador. Em meio ao isolamento social, tão necessário neste momento para frearmos a contaminação pelo novo coronavírus, obtive a oportunidade de ingressar no grupo de pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea.


Acessei o link para nosso encontro e aguardei a permissão para entrar na sala virtual. Poder participar especificamente dessa reunião por meio de uma transmissão ao vivo me gerava ansiedade e euforia, visto que finalmente eu teria oportunidade de conhecer a professora Valéria Peixoto de Alencar.


No ambiente virtual, foi a professora Julia Rocha quem nos acolheu conduzindo a mediação do nosso encontro. Coordenadora do grupo de pesquisa, foi ela quem realizou todos os arranjos propositores para que nesta data pudéssemos dialogar com a professora Valéria Peixoto de Alencar. Aguardo minha vez de falar e um pouco nervosa me apresento como estudante e professora de arte. Conhecer através de uma videoconferência a pesquisadora que utilizo como referencial teórico despertou-me diversos sentimentos, foi uma mistura de frio na barriga com borboletas no estômago somados a um certo receio de fazer papel de boba diante de uma pesquisadora tão respeitada e admirada.


Valéria Peixoto de Alencar, enquanto educadora em museus e exposições, realizou pesquisas que tratam do processo de mediação cultural nos espaços expositivos, tema que me desperta questões investigativas para o ensino da arte. Realizada a abertura do nosso diálogo acerca do texto a Mediação cultural em museus e exposições de história, três anos depois e se você só tem quinze minutos, confesso que me senti transladada para um auditório onde visualizei nosso evento como uma mesa-redonda, sendo promovido o debate e questionamentos acerca da arte/educação como mediação cultural. Nesse texto, a imaginação é um elemento importante, assim como na tese de doutorado de Valéria. Na temporalidade do título apresentado, os quinze minutos contabilizados, demarcam o início do percurso feito pelo espectador enquanto apressadamente caminha visitando um espaço expositivo.


Aonde ele chegará, ou aonde chegaremos fará parte dessa conversa acerca de como ocorre a mediação cultural em exposições. A sabedoria e a simplicidade de Valéria me encantaram. Como professora de história e atuando na educação básica a autora sempre explorou as imagens que ilustravam os livros didáticos. Isso me fez lembrar que a disciplina de história era a minha favorita durante meu percurso como estudante na educação básica, justamente pelo fato de ser a única disciplina que trazia imagens de obras de arte em seu material didático. Rapidamente estabeleci um vínculo afetivo com seu discurso à respeito da sua experiência profissional, de fala mansa e agradável fui sendo seduzida por suas palavras experienciando em nosso encontro uma enriquecedora mediação informativa.


Neste intervalo de tempo em que estamos conectados, me sinto juntamente com Valéria diante da obra “O calcanhar de Aquiles”, analisando qual seria meu ponto fraco. Dispôr de mais tempo para fruição artística seria o meu. Uma professora de arte que devido a sobrecarga de trabalho escolar se vê muitas vezes impossibilitada de acessar locais expositivos para participar de formações ou até mesmo ampliar meu repertório artístico. Penso que se esses benditos quinze minutos, me fossem concedidos eu poderia acessar com mais frequência as exposições. E por falar nelas, a ideia de mediação cultural com provocação de dissenso é apresentada por Valéria através de Jacques Rancière, onde vimos que não existe um regime único predominante de interpretação de uma obra.


Elucidando com sua fala as palavras do texto que embasavam nosso encontro pude compreender que as contrariedades e questionamentos diante das obras de arte são agentes propositores capazes de promover a autonomia do olhar do espectador. Ou seja, provocar reações no apreciador também faz parte da mediação. O conceito de mediação diretiva de Bernard Darras foi compartilhado conosco, sendo como aquela abordagem de mediação rápida, não reflexiva e dialogada. Sendo aquele tipo de mediação que apenas repete informações para o público mas sem levá-lo a repensar ou analisar de forma diferente o objeto cultural. Lembra aquelas visitas mediadas em cidades históricas realizadas por guias turísticos que apenas repetem informação, mas sem dialogar muito com o público levando-os a se questionarem até mesmo o porque daquela obra estar ali.


Contrapondo essa abordagem, Valéria apresenta outro conceito de Darras, que é a da mediação construtivista, esta tratando do diálogo entre o mediador e o público. Nessa abordagem destacamos a importância do papel do mediador como essencial considerando em seu discurso as respostas dos espectadores. Estabelecendo provocações que levam o público a se questionar sobre a obra e que, por outro lado, também valorizam a subjetividade do espectador.


Observamos que no espaço entre museus, imagens, história, arte e educação, dialogando sobre as narrativas das obras de arte como feitos históricos, costumam apenas ressaltar as tendências históricas eurocêntricas de dominação cultural. Concordamos que a história contada através da arte ou documentos históricos não deve ser tomada como uma representação única da verdade, mas como a interpretação de um determinado fato em uma específica época. É através da contravisualidade que esses questionamentos possibilitam interpretações múltiplas acerca das obras, não aceitando apenas o discurso reprodutor da cultura hegemônica, pois a diversidade de contextos sociais é um elemento de interferência na produção de significados do espectador diante das obras.


Até aqui foi permitido nosso diálogo, porém nossa reunião precisa ser encerrada. Mergulhando no discurso da nossa palestrante, pude perceber que os parágrafos escritos de um texto quando são narrados pelo próprio autor são capazes de ampliar o nosso entendimento, expandindo nossa percepção sobre a temática abordada. Tópicos importantes sobre a realização da mediação cultural em espaços expositivos foram compartilhados. Conceitos que relacionam o tempo, a história, a educação e a arte nos conectaram aos questionamentos propositores que surgem através da mediação quando possibilita situações potenciais de dissensos.

Visita e chamada encerrada.



sobre a autora:

Juliana de Oliveira Amorim Gomes é bacharel em Artes Plásticas pela Universidade do Espírito Santo e Licenciada em Educação Artística pelo Centro Universitário Claretiano. MBA em História da Arte pela Universidade Estácio de Sá. Pós-graduada em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal do Espírito Santo e em Educação Especial pelo Instituto Superior de Educação de Afonso Cláudio. Professora de arte na educação básica desde 2002 atuando em redes estaduais, municipais e privadas de ensino. Licencianda em Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo, integra o Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Tem interesse de pesquisa na área de história da arte contemporânea, a mediação cultural no ensino da arte e sobre as relações étnico-raciais no ambiente escolar.



referência:

ALENCAR, Valéria Peixoto de. Mediação cultural em museus e exposições de História: Três anos depois e se você só tem 15 minutos. PRADES, Anita Novaes; LIA, Camila Serino; PINTO, Levi Fernandes Lopes Vieira; BREDARIOLLI, Rita Luciana Berti; LIMA; Sidiney Peterson Ferreira de; ALENCAR, Valéria Peixoto de. Partilhas sensíveis: diálogos sobre imagem, história e memória, mediação, arte e educação. São Paulo: UNESP, 2018.



2 comentários

2 Comments


Valéria Alencar
Valéria Alencar
Aug 12, 2021

Ai, que lindeza ler esse texto. Muito obrigada.

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Julliana Amorim
Feb 22, 2022
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Gratidão por tudo!❤️

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