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mediação, pesquisa e prática documentária

Relato do encontro “Museologia pós-crítica segundo os Tate Encounters”, com Cayo Honorato, realizado em 28 de setembro de 2020


Dando continuidade ao conjunto de encontros que temos estabelecido enquanto Grupo de Pesquisa, realizando diferentes edições com convidados, no dia 28 de setembro recebemos Cayo Honorato para conversar a respeito de pesquisa desenvolvida durante Pós-Doutorado, acompanhando a investigação promovida pela Tate Britain, museu público londrino que narra, cronologicamente, a produção do país em torno da arte, desde 1500 até os dias atuais e publicada no livro Post-critical Museology: Theory and Practice in the Art Museum (2013).


A pesquisa foi apresentada ao Grupo por meio da leitura do texto A museologia pós-crítica segundo os Tate Encounters, previamente estudado para ser o ponto de partida da nossa conversa. No texto, Cayo apresentou a perspectiva da instituição de revisão e ampliação dos públicos, analisando os encontros promovidos entre a Tate Britain e estudantes da London South Bank University (LSBU) que têm uma origem familiar migrante. O projeto - realizado entre 2007 e 2010 - visava identificar como as narrativas da história britânica são contidas, construídas e reproduzidas nas práticas curatoriais e na coleção do museu, analisando como os diferentes grupos migratórios e diaspóricos se relacionavam ou não com essa história.


Na perspectiva de análise do texto do nosso convidado, o projeto esteve articulado com o conceito de museologia pós-crítica, identificando “remissões e intersecções, mais do que rupturas definitivas” entre os dois. Os Tate Encounters foram pensados para tentar minimizar os efeitos dos públicos ausentes (ou sub-representados) e como o autor menciona em seu texto, “a pesquisa buscou compreender quais eram as barreiras de acesso para essas pessoas e como elas poderiam se identificar com o museu – em correspondência à expectativa da instituição por, de certo modo, reafirmar sua autoridade enquanto representante do interesse público”.


Conforme o projeto do museu tinha o propósito de transformar suas próprias práticas em relação a questões sociais e culturais, a museologia pós-crítica foi apresentada por Cayo, sobretudo a partir de três referências: Tony Bennett (1995), Carol Duncan (1995) e Eilean Hooper-Greenhill (1992). Assim, o pós-crítico foi discutido pelo convidado e apresentado no encontro como uma possibilidade de reformulação da crítica e revisão dos pilares que até então sustentavam as correntes da museologia crítica.


Nota-se, portanto, que para ser implementada, a museologia pós-crítica precisa constituir uma relação colaborativa com a instituição – sem efetivamente se tornar um agente publicitário de sua própria imagem. A esse respeito, quando questionado sobre a verdadeira intencionalidade das instituições museais e expositivas de contemporaneamente revisarem seus acervos e suas narrativas, nosso convidado disse que a retórica do discurso de inclusão e decolonialidade que ainda está em processamento, atende para conter novas discussões, deixando-nos ainda na incerteza sobre a inquietação dos espaços nesse sentido.


Destacando as questões que circundam nossos encontros e pensando efetivamente nos processos educativos, Cayo situou o Programa dos Tate enconters como exercícios de reformulação do discurso institucional, ao menos abrindo a possibilidade de escuta e investigação em relação aos públicos. Assim, a mediação com esses não-visitantes ou potenciais visitantes engendra-se na perspectiva que o próprio pesquisador direciona, da mediação como pesquisa e como prática documentária.



sobre a autora:

Julia Rocha é professora da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenadora do Núcleo de Artes Visuais e Educação do Espírito Santo - NAVEES e do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Doutora em Educação Artística pela Universidade do Porto, Mestre em Artes e Educação pela Universidade Estadual Paulista e Licenciada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Realiza pesquisa sobre o ensino da arte na contemporaneidade, mediação cultural, relações entre museus e escolas, avaliação de propostas educativas no campo das artes visuais e formação de professores.



referência:

HONORATO, Cayo. A museologia pós-crítica segundo os Tate Encounters. Revista Mouseion, Canoas, n. 33, ago. 2019, p. 93-107.




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