este ensaio visual foi construído a partir de um desenho em ação, no qual busquei utilizar a extensão do papel para marcar os movimentos feitos para desenvolver os desenhos grafados no perímetro em que o suporte tange a parede.
todo o meu percurso na educação básica foi marcado pela performance de um ser fabricado, que vivia sob um mecanismo que buscava encobrir os meus trejeitos e a minha identidade. a experiência escolar vivenciada por sujeitos que se distanciam das convenções de gênero pode ser muito solitária e cansativa. sou uma mulher lésbica e tenho lembranças vívidas de conter o meu corpo na escola, desde os anos iniciais. continha-o porque sabia que os meus gestos poderiam ser lidos como o indício de alguma distinção, de que a forma com que eu me mexia poderia me diferir demais das outras meninas. a minha corporalidade me distanciava das expressões comuns daquele espaço heteronormativo e me aproximava do desconhecido do que era eu, por isso, me controlava e tentava me homogeneizar às outras crianças.
a cadeira e a mesa das salas de aula materializam e simbolizam a contenção desse período. a escolha de retratá-las distantes e de frente uma para outra - enquanto caminho pelo suporte traçando meu trajeto - vem da ideia de explicitar que só quando pude romper o espaço da carteira escolar é que comecei a mover o meu corpo e as minhas formas de expressão. me interessa marcar o percurso para a construção dessas imagens pois os meus desenhos surgem justamente desse corpo móvel e não mais daquele corpo sutil.
sobre a autora:
Júlia Ramalho é artista visual e graduanda do curso de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santos (UFES). Dentro de sua produção explora a linha contínua no desenho como expansão do gesto e tem interesse de pesquisa no campo da docência-artística. É membro do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e Arte Contemporânea (CE/UFES). Página da artista: https://www.instagram.com/jm.s.r/
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