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quando falam as esculturas: performance e memória


Geovanni Lima - O que te diz meu corpo? (2017)

Documento de Performance, Festival SESC Aldeia Ilha do Mel, Vitória, Espírito Santo. Fotografia: Paula Barbosa



Uma porção de pedra, concreto ou bronze em forma humana, fixada no espaço por onde transitam pessoas comunica, evoca uma narrativa, uma biografia, um fato, um passado.


Mas como fazer falar uma escultura?


O performer Geovanni Lima em “O que te diz meu corpo?” toma pra si esse desafio, fazer falar as esculturas. E quem fala, diz para ser ouvido. Que pode dizer um corpo negro, gordo, latino-americano e gay enquanto envolto em tecido bege – aquela tal “cor de pele” do vocabulário escolar do século passado? Que pode dizer esse corpo que veste a cor da pretensão de universalidade? Que pode dizer a pele oculta por baixo da pele?


As vozes que saem de pontos deste corpo, através de instalações sonoras, contam histórias, narrativas de outros corpos, outras formas de estar no mundo, outras experiências e memórias. A ação entre artista e público constrói uma dimensão de composição escultórica, onde ora um transeunte senta-se no chão para ouvir a narrativa do pé esquerdo, ora outra transeunte fica a poucos centímetros do corpo do artista para ouvir as histórias narradas pela genitália deste corpo têxtil.


As memórias se desdobram em uma torrente contínua de presente, se atualizando e ganhando novos contornos a cada pessoa que se dispõe a ouvi-las. As memórias narradas se atualizam e ganham nova dimensão memorial na experiência dos corpos que desejam ouvir o outro, que se permitem viver o contato continuamente presente da performance.


Do corpo do artista e dos corpos das pessoas do público restam apenas vestígios visuais, documentos de um passado. O presente não se constitui enquanto duração, ele é sempre uma ficção narrativa em transmutação para se tornar memória e às esculturas e aos corpos cabe a tarefa de evocar os passos anteriores e condensar os percursos trilhados para compor um gesto presentificado.


A performance “O que te diz meu corpo?” integrou as programações do Festival SESC Aldeia Ilha do Mel (2017) e Viradão Cultura (2018), ambos em Vitória; e do Encuentro Bienal do Hemispheric Institute of Performance and Politics (New York University), realizado na Cidade do México (2019).


Geovanni Lima - O que te diz meu corpo? (2017)

Documento de Performance, Festival SESC Aldeia Ilha do Mel, Vitória, Espírito Santo. Fotografia: Paula Barbosa


Geovanni Lima - O que te diz meu corpo? (2019)

Documento de Performance, XI Encuentro Bienal do Hemispheric Institute of Performance and Politics, Cidade do México, México. Fotografia: Manuel Molina Martagon


Geovanni Lima - Página de SketchBook (2016)

Geovanni Lima - Página de SketchBook (2016)


Geovanni Lima - O que te diz meu corpo? (2017)

Documento de Performance, Festival SESC Aldeia Ilha do Mel, Vitória, Espírito Santo. Fotografia: Paula Barbosa


Geovanni Lima - O que te diz meu corpo? (2017)

Documento de Performance, Festival SESC Aldeia Ilha do Mel, Vitória, Espírito Santo. Fotografia: Paula Barbosa



Ensaio originalmente publicado na Revista NAVA/ UFJF (v. 5, n.1 e 2, agosto de 2019 e 2020, p. 136-140).




sobre os autores:

Geovanni Lima é artista e performer. Mestre e Doutorando em Artes Visuais (UNICAMP) e Licenciado em Artes

Visuais (UFES). Tem realizado pesquisas visuais ligadas à diáspora negra, arte contemporânea e performance.

Apresentou trabalhos de performance, videoperformances e desmontagens poéticas em exposições, seminários e festivais na Cidade do México (MEX), Rio Grande (RS), Florianópolis (SC), Joinville (SC), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Uberlândia (MG), Macapá (AP), região metropolitana de Vitória (ES), entre outros. Idealizador e Coordenador do Festival Lacração – Arte e Cultura LGBTI+ e do Performe-se – Festival de Performance. Portfólio: www.geovannilima.com.br


Maíra Freitas é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Unicamp, na linha de pesquisa História, Teoria e Crítica; mestra em Multimeios pela Unicamp; e graduada em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra. Atua como pesquisadora em arte contemporânea, com enfoque em videoarte e suas relações com gênero, sexualidade e racialidade; é arte-educadora e curadora. Publicou a série de fotoperformance Deslizamento e Emersão, de sua autoria, no livro Nós (em) Butler: gênero, política, educação, ética, arte, organizado por Jacob Biziak (Ape'Ku Editora, 2020) e é colaboradora da plataforma hipocampo.art.br. Sua pesquisa de doutorado tem financiamento da agência CAPES.

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