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sobre a pesquisa: processos expositivos na escola

Sobre a pesquisa: “Arte contemporânea e as novas gerações: Uma experiência de exposição no contexto da escola”, desenvolvida como trabalho de graduação no curso de Licenciatura em Artes Visuais na UFES, sob orientação da Profa. Dra. Julia Rocha



Ensino da arte, novas gerações, arte contemporânea e mediação foram algumas das palavras que surgiram ainda no planejamento desta pesquisa e direcionaram meu interesse em investigar os reflexos das transformações pelas quais a sociedade vem passando, pensando no desenvolvimento dos indivíduos, especialmente em seu perfil como estudante.


Ainda em sua síntese, “Arte contemporânea e as novas gerações: Uma experiência de exposição no contexto da escola” também incorporou o desejo de ampliar minhas possibilidades na docência, explorando as conexões existentes entre os interesses que desenvolvi no campo, dentro da arte contemporânea e dos processos curatoriais. Deste modo, a pesquisa se estruturou, primeiramente, como um processo teórico, e ao fim, encaminhando para um projeto-oficina realizado no contexto escolar.



A pesquisa se inicia introduzindo a Geração Z – os Zappiens -, e por ter uma proximidade de idade que me permite me incluir nesse grupo, minha vivência pôde colaborar com o desenvolvimento do trajeto, ainda que, em muitos momentos, por intermédio do ponto de vista de outros pesquisadores. Como uma Zappien, eu já vinha observado/experienciado durante o processo de formação escolar e universitária alguns dos pontos destacados, como o acelerado fluxo de informação, a relação mais estreita com a tecnologia e a internet e uma certa introspecção à socialização presencial. No entanto, recorrendo a Wim Veen e Ben Vrakking (2006), Raimundo Martins (2010) e María Acaso (2009) pude refletir sobre as especificidades dessa geração e do meio em que vivem de forma mais distante e ampla, refletindo sobre as reverberações dentro do ensino da arte e nos seus modos de compreensão.


Em todo o percurso, pude pontuar e considerar potencialidades e fragilidades que permeiam o desenvolvimento das novas gerações, tanto nos espaços de convívio social, quanto no âmbito escolar. Dentre essas mudanças, destaco aqui a facilidade de percorrer por entre as redes e aparatos da comunicação digital, alto consumo de conteúdo (audiovisual, imagético, sonoro, etc.), maior autonomia, agilidade e participatividade.


Posto isso, a pesquisa permitiu ponderar como as especificidades dos estudantes sendo incorporadas nas perspectivas de ensino fazem com que a experiência de aprendizagem possa se desenvolver de forma mais afetiva e efetiva. De mesmo modo, o estudo também considerou a ideia, já presente em outras escritas do Entre Pesquisa, de aproximar a arte contemporânea da sala de aula, desconstruindo a presente e majoritária perspectiva de repertório artístico trabalhada nas escolas e apresentando perspectivas contemporâneas também para as metodologias do ensino da arte.


Em vista disso, a escrita percorre por autoras que observam o descompasso entre o conteúdo apresentado no ensino da arte e a produção contemporânea. Por intermédio de Julia Rocha (2018) e Marina Menezes (2007) reflete-se sobre os processos de aprendizagem, trazendo um olhar para a arte contemporânea e as perspectivas decoloniais no ensino da arte, tanto na perspectiva metodológica, como na seleção dos conteúdos, assim discutindo a experimentação com a arte contemporânea no espaço escolar.


As produções contemporâneas reúnem várias características, técnicas e expressões que seguem uma perspectiva de pesquisa e produção artística mais reflexiva, tendendo-se a valorizar o processo artístico, o conceito, a ideia e as possibilidades em relação ao objeto final. Essa dimensão constitui um diálogo com as perspectivas de ensino mais dialógicas, podendo o objeto de arte ser propulsor de reflexões - questão central para a proposição do projeto-oficina. Assim, investigaram-se os pontos de encontro entre o sistema da arte e a sala de aula, salientando as possibilidades de diálogos entre a arte contemporânea e o ensino discutido na pesquisa.


Se orientando nas perspectivas e metodologias de ensino mais horizontais, a prática de pesquisa realizada dentro da escola refletiu sobre o processo de aprendizagem a partir do público, considerando suas particularidades, seu contexto social e sua autonomia dentro e fora dos espaços educativos. Em diálogo com especificidades dos alunos, até então presentes nas salas de aula, recorreu-se à pedagogia de projetos de Fernando Hernández (1998), considerando suas características processuais e dialógicas como um caminho para abordar o conhecimento no ensino da arte.


Por fim, motivada por essa ideia e pelo anseio de experienciar a sala de aula ainda no processo de formação, a pesquisa se encaminhou para o projeto “Experienciando processos expositivos”, que ocorreu com a turma de 9º ano (matutino) da EMEF Experimental de Vitória - UFES, mediada e supervisionada pela Professora Julliana de Oliveira Amorim Gomes. O grupo de alunos foi escolhido por ser parte da geração Z, grupo investigado nesta pesquisa, sendo assim possível relacionar as observações feitas no projeto com aquelas pontuadas dentro da investigação, bem como por sugestão da professora parceira do projeto.


O projeto-oficina foi realizado com o objetivo de promover um diálogo mais próximo entre as produções artísticas contemporâneas e a sala de aula, por intermédio da realização de uma exposição no contexto escolar, envolvendo obras de artistas capixabas atuantes no circuito da arte. Ao final do processo curatorial, a exposição criada envolveu obras de Bianca Corona, Geovanni Lima, Júlia Ramalho, Luciano Feijão, Renato Ren e Rick Rodrigues. No processo de elaboração, desenvolvimento, montagem e realização da exposição “A cor importa?” os estudantes foram os produtores, os curadores, os mediadores e os designers, tendo assim a dupla experiência de pensar a mostra como criadores e como públicos.


Durante um período de 5 semanas foram apresentados à turma os bastidores do sistema da arte, envolvendo os processos curatoriais, as diferentes equipes e ações que mobilizam uma exposição e os modos de pensar a educação com a arte, provocando-os a se aproximarem da arte contemporânea por uma outra perspectiva, identificando aspectos próprios do campo. Em paralelo, pela conexão direta com as obras presentes no contexto da escola (cedidas pelos artistas parceiros do projeto), os estudantes puderam conhecer o acervo com o qual iriam trabalhar, identificando questões potentes para sua exposição em produção, permitindo-os conhecer obras contemporâneas de artistas atuantes no Espírito Santo.



Ao final desse processo, a exposição “A cor importa?” esteve aberta durante um dia, envolvendo todos os estudantes da comunidade escolar, pais e responsáveis, outra EMEF da rede de Vitória, colegas e professores da UFES e representantes da Secretaria de Educação - com visitas mediadas pelos próprios estudantes do 9º ano para cada um dos grupos visitantes. Os papéis também puderam ser invertidos, com a visitação da artista Júlia Ramalho, participante do projeto, que conversou com a turma proponente e outros visitantes.


Toda a experiência do projeto proporcionou que eu pudesse refletir sobre as trocas vivenciadas com estudantes, artistas e professora no processo, construindo minha identidade como professora em sala de aula, ainda que no papel de pesquisadora/mediadora. Igualmente, essa vivência me possibilitou relacionar as observações que já haviam sido feitas na pesquisa com a prática, considerando as disparidades, imprevistos e surpresas.


Observando os reflexos e devolutivas do projeto, destaco o impacto da experiência na relação interpessoal da turma, a qual foi trabalhada nas dinâmicas em equipes e ao articularem as oportunidades e dificuldades que surgiam. De mesmo modo, a oficina pôde desenvolver uma aproximação dos estudantes com a arte, através do contato com as produções, destacando-se a importância de ter sido trabalhada a arte contemporânea, pois além da identificação com as narrativas que os artistas incorporam, os estudantes puderam exercitar sua capacidade investigativa indo até a fonte, o artista.


Notabiliza-se que atividades como essas que foram desenvolvidas conjuntamente na EMEF UFES dentro do projeto-oficina “Experienciando processos expositivos” podem refletir na forma como estudantes, corpo docente e comunidades externas se relacionam com a arte. Acredito que a oportunidade de transgredir as delimitações de um espaço escolar e um expositivo e desenvolver ambos em um lugar comum pôde ressignificar a relação com a arte contemporânea durante o desenvolvimento da proposta expositiva, trazendo a experiência estética até o público e permitindo a oportunidade de fomentar o contato e consumo intencional da arte e da cultura.


Por meio desta pesquisa, minha noção de sala de aula e de docência puderam ser revistas, fator preponderante para a construção da minha identidade docente. Ainda que em quase todo meu percurso acadêmico meus professores tenham me apresentado variadas concepções de ensino da arte, a relação que desenvolvi com o projeto foi diferente do que até então lia e partilhava durante o processo formativo. Poder vivenciar esse contato com os estudantes e a professora e participar de uma atividade que estimulou a autonomia, o protagonismo e o contato com o campo da arte, reforçando a minha vontade de prosseguir como arte/educadora.



sobre a autora:

Graduada em Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atualmente é bolsista do Projeto de Extensão – Processos de Criação em Curadoria e participa do Grupo de Pesquisa Entre – Educação e arte contemporânea (CE/UFES). Tem interesse na pesquisa sobre a prática docente em arte com a Arte Contemporânea.



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