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sobre a pesquisa: suturas entre arte e educação

Sobre a pesquisa: Arte é educação: Uma visita sobre processos educacionais, agentes mediadores e discursos institucionais na arte contemporânea, desenvolvida como trabalho de graduação no curso de bacharelado em Artes Plásticas na UFES, sob orientação da Profa. Dra. Julia Rocha



Desde que comecei a trabalhar com a educação em espaços culturais em Vitória e tendo acesso aos debates que envolvem as perspectivas educacionais dessas instituições notei que algumas lacunas eram bem pontuais nesses meios de atuação. Inclusive, trabalhando como mediador pude experimentar na prática essas discussões e perceber os atravessamentos que me envolviam. Quase me formei acreditando nos pressupostos que divergem arte e educação, de que precisamos de um hífen ou uma barra para afirmar na arte seus ideais didáticos, de que a mediação é o que se localiza apenas no lugar entre instituição e público, de que educação em museus deve surgir após alguma coisa ou é sinônimo de núcleo educativo ou mediadores, visitações, jogos, escolas etc.


Em resposta a essa inquietação quanto à separação dos dois campos, por que não pensamos que a educação é o que está antes de tudo dentro da produção em arte? Por que não assumimos que ela também está no interior de suas entranhas? Por que não responsabilizamos a educação nos diferentes setores que compõem a organização institucional? Onde ela começa e até onde ela pode ir? E o que pensamos quando nos referimos ao termo mediação? Ser e ter sido mediador durante esses últimos anos durante a formação em Artes Plásticas me instigou a construir essa trajetória de reflexões, não pela proposta do trabalho em si, mas pelos incômodos e reflexões ocasionados a partir das relações estabelecidas nessa função.


Sendo assim, observa-se que a educação na arte ocupa um lugar muito complexo, porque é vista e conduzida de diferentes maneiras, instituída e significada por diversas perspectivas. Essa intersecção é complexa e estabelece contato por inúmeras formas, seja por um trabalho de arte, pela disposição de uma instituição nas comunidades que a envolvem, pelos textos e imagens visíveis e invisíveis que circunscrevem o espaço ou pela junção ou pela separação dos conceitos que envolvem os dois campos. Então o que as instituições de arte e seus afluentes ainda precisam ouvir? Nesse sentido, vamos ao encontro das mediações, pensando sobre as mais diferentes percepções, referências, conhecimentos e relacionamentos que dentro dessa composição espacial e ideológica - das instituições e exposições de arte - atuam diretamente no desenvolvimento de aproximações, afastamentos, leituras, sentidos e contextos, tanto para o público, como para os educadores e outros setores institucionais envolvidos nos exercícios de recepção.


No decorrer da pesquisa intitulada “Arte é educação: Uma visita sobre processos educacionais, agentes mediadores e discursos institucionais na arte contemporânea” investigo sobre como a educação afere suas raízes a partir da compreensão que a arte já é educativa e não devem atuar como meios desassociados e singulares, assumindo seu papel enquanto um fenômeno cultural, histórico, social, político, pedagógico, estético, conceitual, ético e dialógico. O trabalho é construído como uma visita mediada por diferentes reflexões que compõem minha formação como educador em espaços expositivos e se conecta a uma análise simultânea de trabalhos contemporâneos de artistas como Charlene Bicalho e Maíra Vaz Valente. A produção das artistas e os discursos das referências são tomados em paralelo ao meu percurso como mediador, refletindo em convergência sobre o lugar de ser artista, dos espaços educativos e expositivos, das escolas, dos circuitos culturais e até mesmo da curadoria.


Para melhor desenvolver essas questões foi necessário dividir a pesquisa em cinco capítulos. No primeiro, buscou-se desenvolver um momento de acolhimento para apresentar a investigação que vou construindo e quais ferramentas utilizei para iniciar essa trajetória. Começo evidenciando as provocações que surgiram de experiências iniciadas em 2017 e que duram até os dias atuais, como educador nos espaços expositivos em Vitória. Em seguida, na tentativa de criar exercício dialógico e partilhado sobre tais questões, ressalto que no ano de 2021 foram realizadas entrevistas com pessoas na qual atuam com educação dentro dos museus e fora deles, assim como pessoas próximas a mim e que compartilham diferentes reflexões sobre o tema. Assim, apresento as artistas referenciadas durante toda a pesquisa, no intuito de observar as fricções e interferências que seus trabalhos aferem nos espaços expositivos pensando-os a partir de uma dinâmica educativa.


No segundo capítulo, apresento brevemente a trajetória da artista Charlene Bicalho, centrando a análise em suas produções artísticas incorporadas nessa pesquisa. Os trabalhos são referenciados por desenvolverem um efeito ou tentativa de exercitar um lugar de questionamento, gerindo possibilidades de inversão, desordenação e tensão e tentando atravessar as barreiras hierárquicas das posições de poder que compõem as relações da própria instituição com o trabalho e posteriormente com os públicos. Nesse momento também evidenciam-se as fragilidades que esses trabalhos estão passíveis a partir das diferentes mediações aferidas sobre eles, isso porque, operando dentro de uma lógica institucionalizada, existem diversas limitações e problemáticas que serão sobrepostas a esses projetos.


No terceiro capítulo, apresentam-se outras produções de Charlene Bicalho, com trabalhos que vão ao encontro do rompimento histórico de trincas hegemônicas e coloniais instauradas nos espaços de arte. A reflexão ocorre novamente permeada por relações complexas que convergem com as ferramentas educacionais. Aliás, nesse momento se torna importante a compreensão da educação de forma ampla e de maneira estrutural para compreendermos as dinâmicas políticas e sociais vetorizadas por questões de gênero e raça.


No quarto capítulo, contextualizo paralelos mais próximos com as interferências que os espaços de arte ocasionam e recebem a partir das tramas que envolvem seus diferentes relacionamentos com os públicos, propondo uma reflexão que atravessa a curadoria, o educativo e a presença das escolas nos espaços expositivos de arte. Para isso, apresento a artista Maíra Vaz Valente e sua produção artística, que vai ao encontro de uma fricção dos envolvimentos históricos e culturais, interseccionando as diferentes áreas que contextualizam os meios institucionais.


Por fim, no quinto capítulo apresento mais um trabalho de Maíra Vaz Valente, refletindo sobre diferentes conflitos e negociações que contextualizam essa produção e dão sentido às diversas manifestações e produções para além das estruturas institucionais. Assim, nesse momento se contextualizam quais são os desdobramos e rumos que uma produção de arte pode gerir a partir de si mesma e com as diferentes mediações institucionais assumidas por um contexto educativo. Também é desenvolvida uma conexão entre educação e atividades curatoriais, visto que esse entrelaçamento vem sendo mobilizado nos últimos anos, carregando diferentes perspectivas que envolvem a acessibilidade da arte e contato com os públicos, pensando nas dinamizações dessas relações.


Convidando públicos e demais sujeitos integrantes do sistema da arte, esta investigação buscou compreender o papel da educação e das mediações a partir de um espaço institucionalizado que comporta produções de arte contemporânea, baseando-se em processos práticos e teóricos elaborados enquanto educador e pesquisador, desenvolvidos a partir das concepções trabalhadas no decorrer dessa trajetória.


sobre o autor:

Raoni Iarin é bacharel em Artes Plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atuou como mediador cultural na Galeria de arte e pesquisa (GAP) em 2017, no Museu Casa Porto das Artes Plásticas (CPAP) em 2018-2020, no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) e Galeria Homero Massena (GHM) em 2022. Atualmente atua como educador no Parque das Esculturas - Casa do Governador e no Palácio Anchieta em Vitória, ES. Tem interesse em investigar os processos educacionais, agentes mediadores e discursos institucionais na arte contemporânea. Atualmente faz parte do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e arte contemporânea (CE/UFES).


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