top of page

só acredito vendo

Relato das oficinas-jogo “Fotografia em desinformação”, com Ana Carolina Pimentel e Julia Rocha, realizadas em 17 de novembro de 2022


Qual o papel da imagem para nos fazer acreditar nas fake news?


Esta foi a pergunta-chave da oficina-jogo Fotografia em desinformação, realizada no dia 17 de novembro de 2022 com 6 turmas de ensino médio da Escola CEDTEC, na Serra, idealizada pela professora Julia Rocha e por mim, graduanda em artes visuais, Ana Carolina Ribeiro Pimentel. A proposta era de uma oficina de leitura de imagens, pensada a partir de fotografias documentais e de processos de interpretação que iniciariam debates sobre o questionamento da imagem como documento e verdade, que foi realizada em parceria com a professora da Escola, Isabela Vieira Martins, também componente do Grupo, que incluiu a oficina-jogo como parte dos estudos dirigidos das turmas de 1ª e 2ª série do ensino médio.


Esta proposta foi um desdobramento de uma prática já realizada com o Grupo Entre, Fake news: as mentiras das imagens, proposta para pesquisadores, professores e graduandos em artes em 21 de fevereiro de 2022, que tinha como objetivo abordar as fake news e alertar sobre a importância de colocar a fotografia sob suspeita no contexto da era digital e das redes sociais, sobretudo considerando a velocidade da informação, a profusão de conteúdo e o massivo compartilhamento vivenciados cotidianamente.


O interesse de levar a oficina-jogo para o ensino médio surgiu de questionamentos sobre como os jovens que estão ocupando as carteiras escolares leem as imagens e pensam sobre elas numa era onde as verdades são cada vez mais abstratas e precisam ser checadas, sobretudo considerando que fora do tempo-espaço vivenciado na escola, esses jovens representam o maior público das redes sociais. Também surge das reflexões acerca da importância de levar a educação visual para a sala de aula e debater sobre temas que estão inerentes ao cotidiano dos alunos e o mundo que os cerca.


Inicialmente a proposta era conversar um pouco com os estudantes e entender o quanto estavam familiarizados com o tema das fake news. A partir de exemplos próximos do seu repertório visual, como uma confusão feita em torno de uma fotografia de uma cantora pop compartilhada, conceituamos que nem sempre se trata de uma notícia totalmente falsa, mas que usa de subterfúgios para que pareça uma verdade e assim seja compartilhada em massa. As contribuições dos estudantes eram ricas quando perguntávamos quem já havia caído em notícias falsas e em todas as turmas pontuaram que geralmente seus pais e avós eram os mais afetados por essas notícias. Indicar a faixa etária abria caminho para que perguntássemos o por quê de pais e avós serem os mais afetados pela desinformação e na maior parte das vezes eles respondiam que a falta de contato com a tecnologia - em comparação com a geração atual - os fazia desconhecer métodos de manipulação digital e a importância de uma filtragem de portais de confiança para a leitura de notícias, visto que na internet a informação pode ser criada por qualquer pessoa. Os jovens pontuaram também que se deixar levar apenas pelas manchetes é um erro, porque muitas vezes essas são sensacionalistas e operam em torno da busca de cliques, indicando que o que se deve fazer em resposta é buscar ler as matérias completas.


Entender que as turmas já tinham essa noção sobre as fake news abria espaço para a próxima pergunta, que foi a que deu início a este relato: qual papel a imagem ocupa para provar algo sobre as notícias?


Os estudantes responderam que a imagem certifica uma verdade. Quando se lê uma notícia, a fotografia anexada funciona como uma prova. Numa era onde sabemos que imagens podem ser manipuladas (não apenas digitalmente, mas também tiradas de contexto), ainda se tem a ideia - até pelos mais jovens - de que precisamos “ver para crer”, sentença que foi dita por uma aluna em uma das turmas. Partindo desse ponto, o jogo começava, para mostrar aos estudantes que em torno de uma imagem é possível se obter várias manchetes e notícias e que devemos desconfiar da sua intencionalidade.




Assim, começamos com cada uma das turmas as rodadas de leitura de imagens, criação de respostas, “manipulação dos leitores” e debate. A proposta do jogo era que um grupo de alunos (que chamávamos de manipuladores) criasse manchetes jornalísticas partindo de uma imagem exposta para todos. Essas imagens se tratavam todas de fotografias documentais, vencedoras do Prêmio Wordpress. A partir da leitura das imagens, os estudantes deveriam criar uma manchete sobre o fato presente na fotografia, tentando enganar a turma de que a sua resposta era a verdadeira. Os demais alunos (os leitores) deveriam votar em qual manchete correspondia à notícia real, que estava misturada entre as demais falsas criadas pelos manipuladores.

As manchetes criadas pelos estudantes em sua maioria faziam conexões com a arte, performances, Covid-19 e saúde mental, temas que estiveram em alta nos últimos anos nas redes. Deixo alguns exemplos abaixo da prática em sala de aula da oficina Fotografia em desinformação:


A maior parte das rodadas apresentou manchetes vencedoras que eram manchetes falsas, evidenciando que - ao contrário do que indicavam no primeiro momento de debate - os jovens também são vítimas das mentiras associadas às imagens. Diante dessa constatação, de como a fotografia associada ao texto pode encaminhar para interpretações enganosas, embora os estudantes brincassem com os criadores das fake news, não deixamos de alertar que todos estamos expostos e somos o alvo dessas práticas que são deliberadamente feitas para viralizar na internet, independente da faixa etária ou do quanto usamos as redes sociais. Também alertamos sobre o quanto é fácil tirar uma imagem de contexto e que isso pode ser feito até por eles mesmos ou por um colega próximo.


Ao final das oficinas-jogo realizadas com cada uma das turmas, apresentamos portais de checagem de notícias que são referência no Brasil, pontuando que essas plataformas contextualizam a fundo os fatos com muito mais do que apenas “verdadeiro” ou “falso”, mas também outras opções para serem conferidas e pesquisadas pelos próprios usuários. Como fechamento, deixamos aos adolescentes a reflexão de que é sempre bom colocar uma fotografia sob suspeita, pois além de ser manipulada ela pode apresentar vários sentidos quando associada com informação textual. Também deixamos a dica para que sempre verifiquem notícias ou leiam a matéria antes de compartilhar, demarcando que isso já é um marco importante para a educação acerca das redes e da cultura visual.



sobre a autora:

Ana Carolina Ribeiro Pimentel é graduada em Fotografia pela Universidade de Vila Velha e atualmente cursando Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Participa do Grupo de Pesquisa Entre - Educação e Arte Contemporânea (CE/UFES) com foco na linha de processos artísticos e educativos relacionados na contemporaneidade. Bolsista PIBIC CNPq (2022-2023), com desenvolvimento do projeto "Pós-fotografia e educação: O papel da leitura de imagens na aproximação com a arte contemporânea".



0 comentário

Comments


bottom of page